As coisas não andam nada bem, para nosso amigo Antônio, as entrevistas de emprego continuam aparecendo, mas a tão esperada volta ao mercado de trabalho ainda não se concretizou.
No mundo capitalista, você é aquilo que você pertence, sua conta bancária está no azul, seu carro é o ano, então tudo bem, todos te amam e o universo te respeita. Realidade distante de alguns milhões, ou quem sabe até bilhões de pessoas que vivem no planeta Terra, a filial do inferno, paraíso de poucos.
Não vou muito longe, para contar a continuação dessa história que começou no post anterior. Antônio está cada vez mais desanimado, com muitos poucos amigos, e nenhum com influência para colocá-lo em um emprego qualquer.
Seu porto seguro agora se resume aos seus pais, sim, os pais nunca viram as costas para seus filhos e apesar de toda sorte de Antônio estar soterrada debaixo de sete palmos, ainda ele pode contar com a ajuda de seus criadores.
Por isso é sempre bom lembrar, ame seus pais.
Amor não resiste à falta de dinheiro, e ele sabia que mais cedo, ou mais tarde a sua esposa iria estourar. Agora, Antônio é um vagabundo que só sabe ver jogo de futebol pela televisão e ler bobagens na internet. Palavras de sua esposa.
Imagine a situação, você desempregado (e desesperado), sua dívidas aumentando seu nome do Serasa (com o nome no cadastro de inadimplentes é impossível arrumar uma nova colocação no mercado, no Brasil, todas as empresas realizam uma pesquisa para ver se você está com o nome limpo, que paradoxo mais tupiniquim), agora aquela pessoa que estava ao seu lado, está contra você.
A vida continua, e na próxima entrevista, Antônio tem estar impecável, sorridente, comunicativo, prestativo e atento a todas as perguntas da selecionadora.
Nervos de aço para uma alma de banana, é isso que o mercado quer, seus problemas ficam do lado de fora da sala, lá dentro você é um cara forte e capaz, mesmo concorrendo com os Q.Is (Quem Indica) da vida.
Em casa, ele nem pode dizer nada, a paciência da sua esposa até que durou muito, já que Antônio está desempregado a quase um ano. Podemos chamá-lo de vagabundo, a coragem que ele tinha para olhar no espelho, hoje ele não tem mais, justo Antônio que toda a noite chorava por não conseguir uma recolocação, seu senso auto-crítico parece que perdeu a voz, diante das afirmações de sua esposa.
Antônio não tem coragem mais para olhar nos olhos daquela pessoa que estava do seu lado, dando apoio e atenção. A vergonha de ser inútil é uma das piores sensações que um homem pode sentir.
De todas as bobagens que Antônio lê na internet, essa é a mais triste e verdadeira delas.
Este blog surgiu no mesmo dia que um gato nasceu no meu telhado enquanto eu escrevia ele miava, então comecei a conversar com ele sobre politica, globalização, massmedia, tecnologia, meio ambiente, artes e variedades. Esse blog está sob controle, coordenação, criação, fotos e imagens de um Jornalista, paulistano e inconformado com a atual situação dessa desordem disfarçada de nação, onde o rabo balança o cachorro e um gato que gosta de Adorno.
Quem sou eu
- Eduardo Whitesocks
- São Paulo, SP, Brazil
- Jornalista em busca dos chips de consciência coletiva para o mundo capitalista moderno. Essa matéria vai dar o que falar. Gosto de escrever de noite com a Lua do meu lado, assim me sinto perto de casa. Antí-massmedia interessados na massificação da bunda, violência e porcarias. Estou a espera do novo, útil, funcional e educacional. Enquanto esse dia não vem, sigo com este blog na tentativa singular de mudar este mundo caótico e cada vez mais quente. Minha pauta favorita é a vida, acordar e ter a possibilidade de fazer cada dia, um dia diferente, tenho 24 horas para ser feliz neste planeta cansado e doente.
domingo, setembro 30, 2007
sexta-feira, setembro 21, 2007
A história de Antônio
Todo dia Antônio acorda pensando se seu dia será diferente amanhã. Mesmo que com medo de enfrentar mais um dia de frustrações e rejeições, não desiste, afinal, as contas para pagar só aumentam e o dinheiro que havia garantido em sua demissão, só diminui.
O desemprego pegou Antônio de surpresa, após 20 anos de trabalho em uma mesma empresa, não esperava sua demissão.
No início parecia fácil, mas com o tempo, não sabia o que fazer com o tempo livre, e começou a trocar o dia pela noite. Sentindo-se um estranho dentro de sua própria casa, experenciando situações antes inimagináveis, passou a se sentir sozinho e deslocado.
A vida social tornou-se um problema e Antônio não sabe mais responder ao questionamento de sua família. É muito difícil o enfrentamento com uma sociedade que julga de maneira negativa o desempregado.
Todos nós crescemos ouvindo que 'o trabalho enobrece o homem', que 'vagabundo é aquele que não trabalha', e que 'só não trabalha quem não quer' e com Antônio não foi diferente.
A temática da marginalização acompanha o desempregado que tem no tempo seu maior desestabilizador, pois quanto mais o tempo passa, mais difícil retornar ao mercado de trabalho, mais difícil ser aceito nas entrevistas de recrutamento, mais fácil ser rejeitado, mais fácil se sujeitar a qualquer trabalho mal remunerado, mais fácil a família desistir e amigos se afastarem.
Nos caminhos tortuosos da compreensão que o desemprego exige, Antônio tenta compreender o que se passa, porque se sente estranho e por que todos vêem de forma banal seu sofrimento.
O problema é que o desemprego não tem data de término, e Antonio não sabe quanto tempo vai durar, o futuro para ele é uma incógnita e a espera só o fragiliza.
A partir do momento em que o sujeito está desempregado e quer retornar ao mercado de trabalho, suas aflições passam a ser muitas.
Às vezes o medo, as vezes a culpa, as vezes a angústia. Esses são os sentimentos que se misturam no dia a dia de Antônio.
O medo é o de não conseguir restabelecer-se. A culpa por se sentir responsável pela perda do emprego, a angustia por não saber como será o seu amanhã.
Antônio busca constantemente compreender a demissão, sempre se perguntando: Onde foi que eu errei ?
É natural buscar razões e motivos para o ocorrido. Quase sempre, quando fazem um balanço de sua história profissional, tendem a culpar-se e a responsabilizar-se pela perda do emprego.
Falar sobre a perda do emprego é falar sobre algo tão importante que pode alterar o modo de relação do sujeito consigo, com sua vida e com os outros. O desemprego afeta a forma de ser dos indivíduos, as estruturas familiares e sociais.
Os trabalhadores demitidos estão diante da ruptura de uma história, questionam-se sobre seus valores, sobre seu futuro, sobre suas vidas. A perda do emprego pode representar para o sujeito não uma, mas inúmeras perdas e rupturas.
A história de Antonio é como muitas outras histórias, de luta e sofrimento. O caminho não é tranqüilo, lidar com o desemprego é sofrer constantes feridas e cicatrizações. Ter que se refazer é o que constantemente tem que se fazer para enfrentar mais um dia. Isso me lembra o próprio Mito de Fênix, ave mitológica que tem o poder de se reproduzir sozinha, após atear fogo em si própria, renasce das suas próprias cinzas.
O desemprego pegou Antônio de surpresa, após 20 anos de trabalho em uma mesma empresa, não esperava sua demissão.
No início parecia fácil, mas com o tempo, não sabia o que fazer com o tempo livre, e começou a trocar o dia pela noite. Sentindo-se um estranho dentro de sua própria casa, experenciando situações antes inimagináveis, passou a se sentir sozinho e deslocado.
A vida social tornou-se um problema e Antônio não sabe mais responder ao questionamento de sua família. É muito difícil o enfrentamento com uma sociedade que julga de maneira negativa o desempregado.
Todos nós crescemos ouvindo que 'o trabalho enobrece o homem', que 'vagabundo é aquele que não trabalha', e que 'só não trabalha quem não quer' e com Antônio não foi diferente.
A temática da marginalização acompanha o desempregado que tem no tempo seu maior desestabilizador, pois quanto mais o tempo passa, mais difícil retornar ao mercado de trabalho, mais difícil ser aceito nas entrevistas de recrutamento, mais fácil ser rejeitado, mais fácil se sujeitar a qualquer trabalho mal remunerado, mais fácil a família desistir e amigos se afastarem.
Nos caminhos tortuosos da compreensão que o desemprego exige, Antônio tenta compreender o que se passa, porque se sente estranho e por que todos vêem de forma banal seu sofrimento.
O problema é que o desemprego não tem data de término, e Antonio não sabe quanto tempo vai durar, o futuro para ele é uma incógnita e a espera só o fragiliza.
A partir do momento em que o sujeito está desempregado e quer retornar ao mercado de trabalho, suas aflições passam a ser muitas.
Às vezes o medo, as vezes a culpa, as vezes a angústia. Esses são os sentimentos que se misturam no dia a dia de Antônio.
O medo é o de não conseguir restabelecer-se. A culpa por se sentir responsável pela perda do emprego, a angustia por não saber como será o seu amanhã.
Antônio busca constantemente compreender a demissão, sempre se perguntando: Onde foi que eu errei ?
É natural buscar razões e motivos para o ocorrido. Quase sempre, quando fazem um balanço de sua história profissional, tendem a culpar-se e a responsabilizar-se pela perda do emprego.
Falar sobre a perda do emprego é falar sobre algo tão importante que pode alterar o modo de relação do sujeito consigo, com sua vida e com os outros. O desemprego afeta a forma de ser dos indivíduos, as estruturas familiares e sociais.
Os trabalhadores demitidos estão diante da ruptura de uma história, questionam-se sobre seus valores, sobre seu futuro, sobre suas vidas. A perda do emprego pode representar para o sujeito não uma, mas inúmeras perdas e rupturas.
A história de Antonio é como muitas outras histórias, de luta e sofrimento. O caminho não é tranqüilo, lidar com o desemprego é sofrer constantes feridas e cicatrizações. Ter que se refazer é o que constantemente tem que se fazer para enfrentar mais um dia. Isso me lembra o próprio Mito de Fênix, ave mitológica que tem o poder de se reproduzir sozinha, após atear fogo em si própria, renasce das suas próprias cinzas.
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