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São Paulo, SP, Brazil
Jornalista em busca dos chips de consciência coletiva para o mundo capitalista moderno. Essa matéria vai dar o que falar. Gosto de escrever de noite com a Lua do meu lado, assim me sinto perto de casa. Antí-massmedia interessados na massificação da bunda, violência e porcarias. Estou a espera do novo, útil, funcional e educacional. Enquanto esse dia não vem, sigo com este blog na tentativa singular de mudar este mundo caótico e cada vez mais quente. Minha pauta favorita é a vida, acordar e ter a possibilidade de fazer cada dia, um dia diferente, tenho 24 horas para ser feliz neste planeta cansado e doente.

sexta-feira, setembro 21, 2007

A história de Antônio


Todo dia Antônio acorda pensando se seu dia será diferente amanhã. Mesmo que com medo de enfrentar mais um dia de frustrações e rejeições, não desiste, afinal, as contas para pagar só aumentam e o dinheiro que havia garantido em sua demissão, só diminui.
O desemprego pegou Antônio de surpresa, após 20 anos de trabalho em uma mesma empresa, não esperava sua demissão.
No início parecia fácil, mas com o tempo, não sabia o que fazer com o tempo livre, e começou a trocar o dia pela noite. Sentindo-se um estranho dentro de sua própria casa, experenciando situações antes inimagináveis, passou a se sentir sozinho e deslocado.
A vida social tornou-se um problema e Antônio não sabe mais responder ao questionamento de sua família. É muito difícil o enfrentamento com uma sociedade que julga de maneira negativa o desempregado.
Todos nós crescemos ouvindo que 'o trabalho enobrece o homem', que 'vagabundo é aquele que não trabalha', e que 'só não trabalha quem não quer' e com Antônio não foi diferente.
A temática da marginalização acompanha o desempregado que tem no tempo seu maior desestabilizador, pois quanto mais o tempo passa, mais difícil retornar ao mercado de trabalho, mais difícil ser aceito nas entrevistas de recrutamento, mais fácil ser rejeitado, mais fácil se sujeitar a qualquer trabalho mal remunerado, mais fácil a família desistir e amigos se afastarem.
Nos caminhos tortuosos da compreensão que o desemprego exige, Antônio tenta compreender o que se passa, porque se sente estranho e por que todos vêem de forma banal seu sofrimento.
O problema é que o desemprego não tem data de término, e Antonio não sabe quanto tempo vai durar, o futuro para ele é uma incógnita e a espera só o fragiliza.
A partir do momento em que o sujeito está desempregado e quer retornar ao mercado de trabalho, suas aflições passam a ser muitas.
Às vezes o medo, as vezes a culpa, as vezes a angústia. Esses são os sentimentos que se misturam no dia a dia de Antônio.
O medo é o de não conseguir restabelecer-se. A culpa por se sentir responsável pela perda do emprego, a angustia por não saber como será o seu amanhã.
Antônio busca constantemente compreender a demissão, sempre se perguntando: Onde foi que eu errei ?
É natural buscar razões e motivos para o ocorrido. Quase sempre, quando fazem um balanço de sua história profissional, tendem a culpar-se e a responsabilizar-se pela perda do emprego.
Falar sobre a perda do emprego é falar sobre algo tão importante que pode alterar o modo de relação do sujeito consigo, com sua vida e com os outros. O desemprego afeta a forma de ser dos indivíduos, as estruturas familiares e sociais.
Os trabalhadores demitidos estão diante da ruptura de uma história, questionam-se sobre seus valores, sobre seu futuro, sobre suas vidas. A perda do emprego pode representar para o sujeito não uma, mas inúmeras perdas e rupturas.
A história de Antonio é como muitas outras histórias, de luta e sofrimento. O caminho não é tranqüilo, lidar com o desemprego é sofrer constantes feridas e cicatrizações. Ter que se refazer é o que constantemente tem que se fazer para enfrentar mais um dia. Isso me lembra o próprio Mito de Fênix, ave mitológica que tem o poder de se reproduzir sozinha, após atear fogo em si própria, renasce das suas próprias cinzas.

2 comentários:

Isa Dora disse...

Se refazer é a parte mais difícil. AInda por cima se a "família desiste". E uma pessoa com mais de 20 anos numa empresa, por vezes, já não é tão jovem assim.

Belo texto. Até mais.

Anônimo disse...

Prezado Eduardo,

Tomando uma única cerveja, no limite da alegreia e da sobrevivencia, empregado graças a Deus, mais um nesse mundao, penso na dor de Antonio que somente uma política suja pode elaborar. É dificil, causa arrepios, mas uma coisa me motiva e precisa sustentar Antonio: Morrer como homem é o prémio da guerra.

Fica na paz irmao. Meu milite da para ser dividido....