- Gostei de ver, Cabeça Branca. Tú é fera. Tú podia levá bala da polícia cara. Olha só lá embaixo. Tá infestado de mané!
Este trecho é do livro Abusado, do jornalista Caco Barcellos que ganhou o prêmio Jabuti de 2004 na categoria livro reportagem.
A história de Juliano VP mostra como funciona a estrutura do tráfico de drogas no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Essa história real desbancou o livro "O Beijo da morte", de Carlos Heitor Cony. Proporcionando uma literatura de imersão num mundo de desigualdade social, esgoto, doenças, sujeita, samba, drogas, organização, solidariedade, amizade e coragem para sobreviver atráves dos restos da burguesia hipócrita que só enxerga o morro como um local para comprar fumo ou pó.
Os moradores da comunidade só sentem a presença do Estado em forma de tiro, caveirão e morte. Serviços como luz, água e gás são oferecidos pelos traficantes, além dos medicamentos e até dinheiro para os "amigos" do morro.
Crianças nascem sem controle, mães cada vez mais novas acabam gerando a mão de obra para o tráfico de drogas, único emprego disponivel para quem é negro, sem conhecimento de informática e não está cursando uma faculdade.
Raro é encontrar algum menino que consegue completar o ensino médio, as meninas acabam estudando mais, até a chegada do primeiro filho que geralmente chega aos 14, 15 ou 16 no máximo.
Existem outras ocupações como porteiro, faxineiro, gari ou pode viver de bicos sem chefe, afinal a renda será em torno de R$ 350,00 por mês.
No tráfico o esquema é diferente, existem oportunidades reais de crescimento basta demonstrar empenho e coragem. Salário inicial de um vapor (aquele que leva a droga para o cliente) está em torno de R$ 1.000,00 mensais.
Porém a vida é curta e só levam a dois caminhos: a cadeia ou o caixão.
A enorme diferença entre ricos e pobre faz vitimas por todos os lados, no morro perdemos crianças que poderiam ter um futuro brilhante mas não tem estrutura para desenvolver nenhuma habilidade além de empunhar um fuzil. Os ricos são sequestrados, assaltados e mortos.
Pobreza não justifica nenhum ato violento, mas o mundo capitalista só enxerga aquilo que você possui, roupas boas, tênis de marca e carro do ano. Os jovens da favela, são ansiosos como todos nessa idade e fica na cabeça a imagem de seus pais, migrantes nordestinos que trabalham a vida inteira, dia e noite e não conseguem sair da favela.
Para eles o trabalho honesto, não gera lucro e o mundo só reconhece aquele que possui o capital.
Eduardo Vinha
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